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Crescimento sustentável na cotonicultura

Produção de algodão no Brasil registrou um aumento da ordem de 57%, enquanto a área cresceu 25,6%, chegando a 1,2 milhão de hectares

No acumulado de duas safras consecutivas, 2016/2017 e 2017/2018, a produção de algodão no Brasil registrou um aumento da ordem de 57%, enquanto a área cresceu 25,6%, chegando a 1,2 milhão de hectares. A diferença no ritmo de crescimento revela os ganhos de eficiência nas lavouras, conquistados a cada safra. A estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) é, no curso de três a cinco anos, dobrar a área plantada e subir um degrau no ranking da produção mundial, chegando ao posto de quarto maior produtor. Na safra que começa a ser colhida, o Brasil deve colher dois milhões de toneladas de algodão em pluma.

Contudo, mais que apenas crescer em área e produção, os cotonicultores almejam fazer isso em bases sustentáveis, dando continuidade a uma história que começou há cerca de três décadas, quando a atividade migrou para o cerrado brasileiro. A palavra que, para muitos, é considerada um modismo, representou a diferença entre a extinção da cotonicultura no Brasil e a elevação do país ao grupo dos grandes players mundiais na produção da commodity.

Para crescer com o menor impacto possível ao meio ambiente, produtores de algodão investem em produtividade, a relação entre produção e área plantada. Nos primeiros anos da cotonicultura no cerrado, colhiam-se em média 675 quilos de pluma a cada hectare de lavoura. Na safra atual, os produtores esperam alcançar um número semelhante ao do ciclo de 2016/2017, em torno de 1,7 mil quilos de pluma por hectare. “A produtividade é o espelho de um trabalho bem-feito, que abarca a escolha das melhores variedades e tecnologias e o manejo correto da cultura, desenvolvida em condições favoráveis de clima e solo. É o que acontece no cerrado, região que concentra 97% da produção brasileira”, diz o presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura.

Junto às demais culturas cultivadas na matriz produtiva diversificada, no cerrado, onde geralmente é consorciado à soja e ao milho, o algodão ajuda a manter o patrimônio natural ao ocupar áreas de antigas pastagens, e incorporar tecnologias avançadas em cultivares, máquinas e insumos para intensificar e tornar mais eficientes a produção e o uso dos recursos naturais. “Assim, menos aberturas de novas áreas são necessárias para o avanço agrícola, e, consequentemente, para a meta de dobrar a área plantada com algodão”, explica Moura.

Quando considerada a produção não irrigada, que é o que acontece em 96% da cotonicultura nacional, o Brasil é o campeão mundial de produtividade no algodão. No cômputo geral, perde para a Austrália, que irriga 100% de suas plantações. Aumentar a produtividade e a área plantada com o algodão vai favorecer uma escalada no Brasil no ranking dos maiores produtores de algodão, ocupando o quarto lugar, que atualmente é do Paquistão, acredita o presidente da Abrapa.

Diversificação - Arlindo Moura afirma que, além da produtividade, a rotação de culturas com soja e milho também contribui para o melhor aproveitamento da terra, pois a participação de cada cultivo pode ser balanceada dentro da própria matriz. “Se os preços do algodão são melhores que o da soja num determinado momento, ele vai avançar sobre a cultura da oleaginosa, sem precisar desmatar para isso”, exemplifica.

Com a diversificação da matriz produtiva, a atividade deixou de ser uma monocultura, como ocorrera no passado, quando a commodity estava concentrada no Nordeste brasileiro e nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A mudança para o cerrado demandou uma revolução conceitual no cultivo do algodão do Brasil, que começou com a substituição das variedades arbustivas – anuais – pelas herbáceas, replantadas a cada safra. “Sem isso, não haveria como fazer rotação de culturas, que quebra o ciclo de pragas e doenças, evita a exaustão do solo e otimiza o uso dos adubos e fertilizantes de uma safra para outra”, diz Moura.

Segundo o pesquisador e consultor, Eleusio Curvelo Freire, a mudança da cotonicultura para o cerrado foi revolucionária. “Primeiro, por adaptar o algodão ao bioma, uma área sem qualquer tradição para este cultivo. Contamos com a Embrapa e empresas da iniciativa privada, que desenvolveram variedades específicas para o cerrado. Isso exigiu tempo e dinheiro. Hoje estamos em outra fase da tecnologia. Temos os OGMs, máquinas modernas, capazes de mensurar com precisão a quantidade necessária de sementes e insumos por área, monitoramento por satélite, manejo estratégico de pragas e doenças, conjugando defensivos químicos e biológicos, uso intensivo de drones e outras inovações que nem mesmo na cidade são vistas, como os veículos autoguiados”, afirma.

Verde conservado - Nas propriedades produtoras de algodão no cerrado, a preservação da mata nativa excede os 20% determinados por lei nas chamadas Reservas Legais (RL), e a conservação das Áreas de Preservação Permanente (APP), como topos de morro, veredas e matas ciliares, é, de acordo com Arlindo Moura, rigorosamente cumprida. “Quem descumprir a lei, colocará em risco a aquisição de crédito e a exportação. Não conseguiríamos ser o quinto maior produtor de algodão mundial nem o quarto maior exportador sem observar os aspectos legais”, afirma.

Doutor em Ecologia e Chefe Geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda contrapõe as diferentes narrativas acerca do cerrado. “Inicialmente, o bioma de mais de 200 milhões de hectares, que representa ¼ do território brasileiro, era uma terra improdutiva que ninguém queria ‘nem de herança’. Depois, no final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, graças à agricultura e a todo investimento tecnológico, principalmente, para correção dos solos, o cerrado ficou conhecido o ‘celeiro do Brasil’. Prova disso é que 97% do algodão que o país produz, 52% da cana-de-açúcar, 73% dos pivôs de irrigação e 33% dos armazéns, com capacidade de armazenagem de 43%, estão nos lá”, enumera.

Com o ambientalismo, afirma Miranda, começou a emergir a narrativa de que o cerrado está ameaçado pelo agronegócio. “Isso não é verdade. A agricultura no cerrado não é fonte de desmatamento e sim de conservação, porque converteu áreas de pastagens em lavouras. Nos últimos 17 anos, a perda de vegetação nativa do cerrado foi de 0,25% ao ano, o que é irrisório. E, mesmo assim, não se pode creditar o desmatamento unicamente à agricultura. Parte disso pode estar associada à expansão das cidades, da malha rodoviária, por exemplo. Precisamos de números e mapas para definir isso”, afirma. “Por outro lado, quanto cresceu a renda e a produção de alimentos nesses últimos 17 anos?”, questiona.

Sinônimo de sustentabilidade - Ao adotar uma mentalidade sustentável, o Brasil se consagrou como o maior fornecedor mundial de algodão licenciado pela ONG suíça BCI. Em 2017, aproximadamente 30% de toda a fibra licenciada pela entidade suíça Better Cotton Initiative (BCI) saíram de lavouras brasileiras. A BCI é um programa global que está presente em 21 países e é referência internacional em licenciamento de algodão produzido sob os parâmetros da sustentabilidade, conceito baseado em três pilares: ambiental, social e econômico.

Alcançar esse status exigiu dos cotonicultores nacionais a adoção de uma mentalidade orientada para a melhoria constante, um processo liderado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que congrega os cotonicultores dos dez estados produtores. O avanço sustentável tem em sua base o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), gerido pela Abrapa, e que, desde 2013, atua em bechmarking com a BCI, visando o incremento progressivo das boas práticas nas fazendas de algodão.

Na safra 2016/2017, 78% da pluma produzida no Brasil foram certificados pelo programa ABR e 69% receberam o licenciamento da BCI. No período, o país produziu 1,5 milhão de toneladas de pluma, em 939 mil hectares de lavouras.

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