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Embrapa contesta dados sobre emissão de gases na pecuária


Estimativa do Observatório do Clima não considera a mitigação, critica pesquisador. Para ABCZ, agropecuária no Brasil é demonizada

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) contestou os dados divulgados na semana passada pelo Observatório do Clima, que atribuem à pecuária de corte 65% das emissões de gases de efeito estufa. “Esses levantamentos consideram apenas a emissão de gases por parte da pecuária. Não levam em conta a mitigação de gases pela incorporação e estoque de carbono no solo em pastagens bem manejadas, a eficiência de raças precoces, que reduzem a permanência do gado no pasto”, diz Cleber Oliveira Soares, veterinário e chefe geral da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande (MS).

Segundo Soares, a pecuária tem evoluído ao ponto de ser a cultura que mais contribui, no Brasil, com o efeito poupa-terra: “São 600 milhões de hectares nos últimos 40 anos. Isso é um fato. Os sistemas de produção eficientes têm contribuído para mitigar e promover o crédito de carbono. O pasto bem manejado, por exemplo, estoca carbono no solo, assim como as florestas plantadas e o plantio direto. Esses fatores positivos não são divulgados”, acrescenta Soares.

O chefe da Embrapa cita a pesquisa realizada pela Kleffman, publicada na edição de novembro de GLOBO RURAL. Segundo o estudo, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), já ocupa 11,5 milhões de hectares, mostrando que o Brasil já alcançou um dos compromissos estabelecidos no INDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas), apresentado na Conferência do Clima em dezembro passado em Paris.

Para Soares, há informações, divulgadas sem embasamento científico, que colocam a pecuária como vilã do aquecimento global. “Estou calejado. Acredito que um dos desafios do agro é mostrar a correlação entre a ciência e o alimento. O Brasil foi de importador a exportador de alimentos graças a tecnologia de ponta usada nas última décadas. A produtividade cresceu aceleradamente sem aberturas de novas áreas”, diz o pesquisador.

Segundo ele, a sociedade não percebeu ainda a importância do país como produtor de alimentos tanto para o mercado interno como para o internacional. “Um bife tem ciência e tecnologia."

Luiz Antonio Josahkian, zootecnista e superintendente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), diz que há uma demonização contra a atividade pecuária. “Toda a atividade tem seus prós e seus contras. A pecuária está sendo bem conduzida no Brasil. Há uma certa complacência com a indústria automobilística, por exemplo, na comparação com as constantes e acerbadas críticas à agropecuária em geral. A indústria automobilística é uma forte emissora de dióxido de carbono”, diz Josakian.

Para ele, tecnologias como o manejo correto da pastagem contribuem com o meio ambiente capturando dióxido de carbono. Há várias outras tecnologias, como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF). Todas elas aumentam a produtividade da boiada e diminuem as áreas para trabalhar a criação e a engorda. Tem também o apuro genético. “É boi mais pesado e abatido antes. Ele fica muito menos tempo no pasto”, diz.

Josahkian fala da sua área específica de atuação, que é a seleção de gado zebu. “Quer bicho mais ecológico do que o zebu? Ele sobrevive comendo capim e o transforma em leite ou carne”, afirma. “O agro ocupa 1,4% do território nacional. Mais de 70% é preservado”, informa Josahkian. “E a tendência é de melhorar ainda mais conforme as novas tecnologias estão sendo incorporadas”, afirma.

Nelson Ananias Filho, coordenador de Sustentabilidade da Confederação Nacional da agricultura (CNA), também contesta os dados do Observatório do Clima. “O Brasil emite menos de 4% das emissões globais. O levantamento leva em conta as emissões e não o balanço. Se a gente considerar os esforços empreendidos para redução das emissões no Brasil – que vêm diminuindo – e o comprometimento da propriedade rural na conservação da biodiversidade, no estoque de carbono e na recuperação de áreas degradadas, vamos constatar que a agropecuária é uma atividade muito menos impactante do que se pinta”, diz.

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